Mas afinal, o que mudou desde o início da época e quais as diferenças mais marcantes para os que jogavam nessa altura? A inteligência de jogo. Antes os jogadores que jogavam não conseguiam perceber quando é que deviam ou não progredir, quando é que deviam ou não mudar o flanco de jogo. Não percebiam quando procurar a rutura ou o apoio. Relembramos o post que fizemos aqui e aqui e com vídeos e imagens tentámos demonstrar o que se passava de errado, e felizmente hoje em dia já não podemos dizer o mesmo. Aliás, dizemos mesmo que hoje em dia a equipa está a fazer exatamente aquilo que deve fazer. Não é por acaso que os resultados surgem. Quando uma equipa joga “o que o jogo lhe pede” está sempre mais próxima de conseguir o sucesso. Tal pode até não acontecer, por circunstâncias específicas do jogo, mas que terá maior probabilidade de o conseguir, isso de certeza.
Os princípios fundamentais do futebol (rejeitando a inferioridade e igualdade e aproveitando a superioridade) já são a base de decisão para a insistência da jogada nesse flanco ou a mudança do centro de jogo para o flanco oposto. Quando antes era porque sim, agora é porque faz sentido.
Quanto aos princípios fundamentais ofensivos, as mudanças são também elas gritantes, uma vez que os princípios de espaço, penetração, mobilidade e cobertura ofensiva são quase sempre bem aplicados, havendo sempre jogadores a procurarem a sua correta execução. A maior parte das vezes, pelo fraco trabalho efetuado na formação, a maioria dos jogadores não reconhece “pelo nome” estes princípios, mas quando lhes pedimos para progredirem com bola se tiverem espaço, procurando agredir os espaços de um adversário para libertar para o colega que entretanto fica livre (penetração), procurarem movimentar-se para dar linhas de passe ao portador da bola (mobilidade), procurarem tornar o “campo grande” quando estamos em posse (espaço) ou simplesmente darem uma linha de passe mais recuada e segura a quem tem bola (cobertura ofensiva), os jogadores percebem o que dizemos e são capazes de o colocar em prática. Quando falamos de “cérebros”, estamos a falar de jogadores que procuram tomar a melhor decisão – aquela que potencialmente mais aproxima a equipa do sucesso – e jogadores que consciente ou inconscientemente têm na sua base de decisão os princípios todos (gerais, ofensivos e defensivos).
Quando os princípios são bem aplicados, é a componente técnica que faz a diferença. O Benfica empata no início da época contra o Rio Ave (podendo mesmo ter perdido) porque a componente tática era deficitária e aí é muito complicado “num todo” a técnica prevalecer. Quando a vertente tática é adequada, a probabilidade de quem tem os melhores jogadores ganhar passa a ser muito maior. Essa é a razão porque o Benfica conseguiu facilmente ganhar ao Rio Ave, mesmo quando estava a perder 1-0 ao intervalo. Com os jogadores que estavam em campo e como taticamente estavam ambas as equipas bem, era fácil de prever que o Benfica sairia vencedor do jogo – claro que o contexto poderia determinar outra coisa, mas as probabilidades estavam a nosso favor.
Neste último jogo, pudemos verificar a beleza da técnica ao serviço da tática, ou seja, conseguimos ver o que acontece quando taticamente “o todo” sabe o que tem que fazer, e deixa a criatividade dos seus artistas (que neste caso são também cérebros) explanar a sua técnica (individual e coletiva) – no vídeo seguinte, atentem nas superioridades que são criadas fruto da genialidade técnica dos nossos jogadores e dos posicionamentos e princípios que os movem.
Consiga o Benfica (e em particular a equipa técnica de Rui Vitória) perceber a componente estratégica de cada jogo e o penta poderá ser uma realidade. Caso se ache que se pode abdicar da componente técnico-tática em virtude da estratégia ou da estratégia porque a técnico-tática chega, então os festejos nunca chegarão a surgir. Caso se consiga conciliar este triângulo fundamental, então apenas erros individuais poderão comprometer a conquista do penta. E individualmente, apenas apresentamos uma grande lacuna (na baliza) e uma limitação (na lateral direita). Saibamos proteger estes pontos fracos e não abdicando do que somos (a vertente técnico-tática matriz de jogo da equipa) e será #rumoaopenta!
Bom trabalho! Bem explicado.
Mas não concordo com um pormenor: “limitação na lateral-direita”?
O Senhor Almeida tem estado fortíssimo, a defender e a atacar. Joga de olhos fechados com o Pizzi e combina cada vez melhor com o Rafa. Tem dois golos e oito assistências, está numa forma impressionante e cada vez mais confiante.
Saudações Benfiquistas! É rumo ao Penta!
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Excelente post e vídeo! Já não sei o que achar de RV enquanto treinador…sempre fui muito crítico dele, mas foi ele que implementou a mudança para este modelo de jogo fabuloso, que desde Dezembro/Janeiro nos está a dar uma qualidade futebolística que, quanto a mim, só tem paralelo em certos períodos do Benfica de JJ (mesmo assim, talvez este modelo seja ainda melhor porque mais ‘maduro’) e no Benfica de Eriksonn do início dos anos 80!…
Mantenho, porém, duas críticas: esta mudança devia ter sido treinada na pré-época – teríamos começado a ver este futebol em Setembro e não em Dezembro e não teríamos dado meio campeonato de avanço…; é quase sempre necessário haver lesões nos Salvios da vida para os inteligentes entrarem no onze. À cabeça desta última crítica, Zivkovic e Rafa, como há ano e meio ando a clamar…
Estou também com o Chama que Anima nas palavras dele em relação ao André Almeida. Quando ele veio, foi-lhe colado um rótulo que nunca foi actualizado, apesar da enorme evolução que ele entretanto teve com bola.
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Bonito… O Benfica está a jogar muito bem, lindas as movimentações (mesmo de quem não tem a bola no pé) e a forma como os atletas dançam à volta do portador. Gosto muito destes pormenores. Parece uma orquestra ou um conjunto de músicos bem jazzy – com uma ideia comum, certo, mas também com a possibilidade de cada elemento utilizar a sua criatividade, fazer o seu caminho a determinada altura, voltando sempre ao eixo condutor quando chega o momento ideal. Destaque também para a diferença enorme entre Rafa e Salvio. Apesar de características parecidas, o Rafa tem prazer e gosto em ligar com os colegas, em progredir consoante o que o jogo vai pedindo. O Salvio é fortíssimo a aparecer na frente e a finalizar, garantido dessa forma bué flashes e manchetes estrondosas. Acontece que no Benfica faz mais falta gente para criar e associar do que para finalizar. Com mais ou menos nível, o Benfica tem sempre gente muito forte para finalizar. Já o resto…
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