aqui falámos da falta de moral que está a afetar a equipa e das possíveis soluções que existem, ao nível dos jogadores. Já tentámos explicar que o atual problema não tem resposta numa possível variação tática. Então, dentro de campo não existem mais problemas? Claro que existem. E o principal problema está na falta de princípios.

Uma das grandes diferenças este ano reside no menor número de oportunidades criadas. Em organização ofensiva, o Benfica está inseguro (o que origina muitas perdas de bola) e incapaz de provocar desorganização nas defesas contrárias. Se os jogadores do Benfica são superiores aos dos que alinham pelas chamadas “equipas pequenas”, então porque é que não se estão a conseguir superiorizar?

Resposta que parece difícil mas que afinal até é fácil: porque estamos a boicotar quase todos os princípios do futebol, em especial os gerais e os ofensivos.

Existem 3 princípios gerais do futebol.

  1. Não permitir a inferioridade numérica;
  2. Evitar a igualdade numérica;
  3. Procurar criar a superioridade numérica.

Sim, são mesmo gerais (básicos), mas quantas vezes é que vemos a bola estar num corredor, nós estarmos em inferioridade e insistirmos nesse lado em vez de mudarmos rapidamente o lado da bola? É que se estiverem 11 de cada lado e eles estão mais ali, já o La Palice dizia que então estarão menos noutro lado… neste vídeo têm vários exemplos onde estes princípios não são aplicados.

Ofensivamente, existem 4 princípios básicos no futebol: penetração, espaço, cobertura ofensiva e mobilidade. Iremos aqui explicar cada um deles e de que forma é que estão (ou não) a ser aplicados pelo Benfica.

Penetração

O princípio da penetração diz que um jogador com bola deverá procurar avançar no terreno, ou seja, senão tiver ninguém à sua frente deverá progredir, de forma a chamar a si um adversário e libertar um colega seu mais adiantado para que este possa receber a bola numa situação mais favorável. Na 1ª fase da organização ofensiva, geralmente quando a bola está nos defesas centrais, isso não acontece nem com Jardel nem com Luisão. Lindelof era um ás a pôr em prática este conceito e foram vários os golos que aconteceram após este primeiro desequilíbrio. Rúben Dias também o faz, mas a partir do banco é mais complicado.

“Começar a criar desequilíbrios desde trás” é uma das dinâmicas que Rui Vitória quer de certeza pôr em prática mas não está a conseguir. Começar a construir em superioridade numérica (com a descida do médio defensivo para junto dos centrais quando o adversário defende com 2 avançados) tem precisamente o intuito de criar desequilíbrios logo no meio-campo adversário. Ora se o central, sem oposição, coloca a bola logo no lateral, então não surge nenhum desequilíbrio e passamos de uma situação de 10×10+GR para uma situação de 7×8+GR (menos 3 do Benfica e os dois avançados do adversário). Já ficámos a perder com este passe…

Este é o princípio que mais problemas causa atualmente ao ataque organizado do Benfica – daí termos vindo a falar tantas vezes na 1ª fase de construção. Enquanto Rui Vitória não perceber o que é que Rúben Dias ou Kalaica poderão trazer que nenhum dos outros traz, vai ser complicado pois iremos estar a atacar sempre numa inferioridade numérica muito dispar.

(em baixo um novo vídeo ainda do SLB-CSKA mas que ilustra este problema)

 

(continuação da explicação dos restantes princípios no próximo artigo)