“Pequenos atos podem gerar grandes consequências” é um princípio geral conhecido como o efeito borboleta e faz parte da teoria do caos, aplicável às mais diversas áreas e onde se tenta explicar que o bater de asas de uma borboleta pode originar um tufão do outro lado do mundo; basicamente, pequenos atos podem gerar grandes consequências.

O efeito borboleta é facilmente aplicável ao futebol. A todo o momento, as ações que estão a ser tomadas influenciam o resultado final. Escolher colocar a bola na esquerda ou na direita será completamente diferente; bater na bola agora ou meio segundo depois também. Estas são algumas das variáveis que a estatística não pode medir e que se revelam fulcrais no trabalho de observação de um treinador.

No último jogo frente ao Paços de Ferreira, Júlio César acabou por ser dos elementos mais fundamentais para o jogo que o Benfica realizou (resultado e exibição).

As diferenças na construção entre o Imperador e Bruno Varela são abismais. Enquanto que Varela opta por bater quase sempre na frente e de qualquer forma, Júlio César tenta quase sempre sair a jogar. E isto tem um impacto muito grande, pois em 80% das bolas que Varela bate o Benfica perde a sua posse; em mais de 90% das bolas que Júlio César não bate, o Benfica conserva a sua posse. O tal efeito borboleta de que falávamos no início.

Adicionalmente, há um outro aspeto que importa salientar. Há 2 ou 3 anos, numa das deslocações para ver o Benfica (sei que não foi num jogo em casa porque aí as roulotes apenas me permitem chegar em cima da hora), no aquecimento, estava o treinador de guarda-redes na linha de meio-campo e o Imperador a bater pontapés de baliza e a fazer as bolas pararem no peito do treinador; não, ele não tinha que andar a correr para a bola lhe parar ali…ela ia lá ter…uma, duas, tantas vezes que isto aconteceu que me fez sorrir e relembrar que é nas pequenas coisas que se pode fazer toda a diferença.

No jogo frente ao Paços, houve um pormenor que não foi possível verificar pela televisão (como não o são muitos dos pormenores “interessantes” para o treinador) e que se passou ao minuto 71. Pontapé de baliza para o Benfica e enquanto na TV passam repetições e focam jogadores, Júlio César manda abrir para sair a jogar; o Paços pressiona alto e para os 3 do Benfica (centrais + Fejsa) estão 3 jogadores do Paços; com Bruno Varela, em todas as ocasiões que se passou isto, o GR voltou atrás na decisão, mandou subir e bateu na frente. Júlio César começou a gritar para os dois laterais (que estavam próximos dos centrais) e mandou-os subir; e subir até um ponto em que os avançados do Paços ou cobriam a saída pelos centrais ou os laterais. Escolheram cobrir os centrais e o Imperador não colocou a bola no peito do treinador mas na cabeça de André Almeida, que de 1ª colocou na frente em Zivkovic (círculo preto na imagem – Luisão não aparece mas está perto do círculo vermelho que dava outra linha de passe a André Almeida).

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Fácil… e isto não aconteceu só nesta vez, aconteceu muitas outras em que o Benfica, ao contrário do que era habitual com Varela, conseguiu sair a jogar. Nesta a diferença foi que teve que ser Júlio César a chamar a atenção dos laterais para subirem mais (de forma a originarem cada um, uma outra linha de passe).

Diz-se que o Paços criou muito menos perigo do que as equipas anteriores; claro, um dos méritos de uma boa equipa não é não perder bolas, porque todas perdem, mas sim estar preparado para a perda. Fejsa ajudou em muito (!) nisto, mas o não desperdiçar bolas com um charuto para a frente ajuda bastante também…